domingo, 11 de outubro de 2009

CINEMA, PETROBRÁS E CPI'S

Outro dia fui ao cinema Odeon, que fica na Cinelândia, de frente para onde, em outros tempos, ficava o Palácio Monroe. Paguei meu ingresso e entrei na sala. Senti um leve cheiro de mofo, mas não me incomodei a ponto de sair. Resolvi então subir para ver o filme no mezanino, lugar privilegiado por ficar numa altura bem interessante e possibilitar ver melhor a tela e, logo o filme.

Qual foi a minha surpresa ao chegar lá e me deparar com o estado do cinema. Cadeiras quebradas, descoladas do chão, carpete mofado, grade quebrada. Comecei a dar uma boa olhada em volta e percebi que o cinema estava sujo, maltratado e mal conservado. A primeira coisa que me veio à cabeça foi: “mas como pode um cinema que faz parte história do Rio de Janeiro e que recebe mais de R$ 20 milhões de patrocínio da Petrobrás estar neste estado”? Será possível que não haja fiscalização na utilização das verbas concedidas pela maior multinacional do país? O que vão pensar os freqüentadores deste cinema, que tem BR no seu nome? Que a Petrobrás está falindo? Que pelos seus corredores andam irregularidades, desvios de verbas, politicagem do mais baixo nível, sonegação fiscal?

Chego em casa com a cabeça permeada por estes questionamentos, nem me lembro mais do filme, ligo a TV e no jornal da noite estão anunciando a criação da CPI da Petrobrás. Não sei bem se fiquei chocada ou aliviada. Meu primeiro impulso foi o de acreditar que, enfim, teríamos uma clareza de onde foi parar todo o dinheiro investido nos projetos por eles patrocinados, mas imediatamente lembrei que CPI não passa de uma manipulação política para enfraquecer o governo que está no poder e que, no Brasil, tudo acaba em “pizza”. Só me resta lamentar pelo Odeon e começar a freqüentar o Unibanco Arteplex, que é patrocinado pelo maior banco privado do país, mas que é bonito, bem conservado e traz na programação a herança do que um dia foi o Odeon.



Tereza Castro Duque Estrada de Barros
Estudante de Comunicação Social – Jornalismo
Facha, 2/10/2009

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

ÁGUA MINERAL?

O Ministério Público Federal do Distrito Federal quer que os refrigerantes H2OH, da Pepsi Cola Indústria da Amazônia Ltda, e Aquarius Fresh da Coca – Cola do Brasil, mudem o nome para serem vendidos no país, alegando que são refrigerantes de baixa caloria, mas possuem nomes que remetem o consumidor a entender que seria água. Isto não é apenas um desvio de conduta, mas principalmente uma propaganda enganosa. Os próprios consumidores do H2OH e Aquarius, já não os consomem como refrigerantes, e sim como água mineral gasosa.
Verificando de outro ângulo, pode-se entender a “Jogada de Marketing” na atual movimentação publicitária. Tudo indica a verdadeira intenção dos organizadores, o que de fato expressa desvio de conduta. A própria jogada de marketing, no propósito de promover a boa venda do produto, apostando na “sede” do consumidor, exemplifica a insensibilidade e a ganância publicitária, que engana e ludibria para garantir um “suposto sucesso”. Esse tipo de comportamento fere vários princípios comerciais que garantem o êxito de uma marca. Foi este suposto “desvio de comportamento”, esta falta de caráter, que chamou a atenção do Ministério Público Federal.
A propaganda enganosa é a mais comum entre os meios publicitários; através dos rótulos, ela se beneficia da ingenuidade e da pouca informação do consumidor. Aproveitar-se da falta de conhecimento das pessoas, fere alguns tópicos do Código de Defesa do Consumidor, como também alguns princípios da própria cidadania.
A publicidade tem direito de avançar em seu próprio progresso, mas não tem o direito de violar o bom senso social. Todos sabem que H2O é a molécula da água. Existem garrafinhas de água mineral sem gás e também com água mineral gasosa. Uma das marcas de água mineral mais famosas é a São Lourenço, que vende produtos sérios. Na boa comercialização da H2O com ou sem gás, o próprio consumidor, por esta e outras boas marcas, talvez menos famosas, já tem em si que água é igual H2O. Foi uma péssima estratégia criar um refrigerante com nome de água. De fato a empresa está enganando muitos que pensam se tratar de uma nova marca de água mineral.
Parabéns ao Ministério Público por sua postura a favor dos consumidores da verdadeira H2O, em todo país, reconhecendo a veracidade publicitária dessas marcas enganosas, que sem nenhum constrangimento, pela força de sua posição capitalista comercial, e certamente da impunidade, devido a problemas na legislação brasileira, “jogam” pesado contra a sociedade.
Parabenizo, novamente, o Ministério Público, que não deixou “passar em branco”, antes reconheceu que a propaganda era enganosa, além de ferir o Código de Defesa do Consumidor e sua cidadania, também feria a Lei de Propriedade Industrial, que proíbe a indução, a falsa indicação quanto a sua origem, procedência, natureza, qualidade ou utilidade do produto ou serviço a que a marca se destina.






Osvaldo Luis Luciano Baptista
estudante de Comunicação Social
Facha, 01/10/2009

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Vamos acordar e ver corujas!

Aqueles que me conhecem, já sabem que sou uma grande fã e leitora incansável dos textos de Veríssimo. Outro dia, me deparei com mais um de seus deliciosos textos que fazem esquecer a correria do dia a dia e refletir sobre a vida, o mundo, as pessoas.Ele cita a metáfora da coruja da deusa Minerva, de Hegel e conclui: “Nenhuma filosofia ajuda a percorrer o caminho já percorrido”.
Se, segundo alguns historiadores, a História é cíclica e muito já foi filosofado sobre períodos similares, por que não aproveitamos toda esta sabedoria? Por que insistimos em compreender, “cair a ficha”, somente no final? Por que não refletimos sobre o passado para tentar melhorar o futuro? Ah! Se fosse simples assim, não haveriam corações partidos, lutas poderiam ser evitadas, e histórias de sucesso não teriam fim. Hoje em dia então, seria impossível! Seria necessária apenas uma pitada de reflexão, escutar alguém mais experiente, ler um “blog”, um conto ou pesquisar na Internet o que pensam grandes pensadores e pronto. Rapidamente, aplicaríamos a filosofia na História mundial, nacional, no nosso dia a dia (no trabalho, nos relacionamentos e até mesmo na saúde) e tudo estaria resolvido.
Por que compreendemos as coisas apenas no fim? Bem, acredito que nós seres humanos somos um tanto quanto curiosos demais e às vezes muito teimosos. Somado a isso, nossa sociedade tende a esquecer facilmente o passado, o que dificulta os momentos de reflexão. Além disso, devemos lembrar que o tempo passa cada vez mais rápido. São tantas as obrigações, as expectativas que muitas vezes nem percebemos que estamos ligados no automático. Como estamos sem tempo ou correndo cada vez mais contra o tempo, torna-se difícil usar a filosofia para compreender algo antes do fim.
Porém, em alguns casos mágicos, a filosofia consegue servir como aliada sim, e nos guia. Nestes momentos, diversos contextos favorecem cada caso e a luz da sabedoria vai aos poucos acendendo. No texto, ele também cita Marx que, ao contrário de Hegel, acreditava que a filosofia mostra para a História aonde ir. Isto acontece algumas vezes, pena não ocorrer constantemente, e cada vez menos. Deveríamos tentar abrir mais nossos olhos e observar mais a coruja da deusa Minerva.


Paula Bordallo Silveira
é estudante de Comunicação Social
Facha - 25/09/2009

A FILOSOFIA E O AMOR

Assim como Hegel compara a filosofia à coruja de Minerva, comparo as grandes histórias de amor à sua compreensão de filosofia. Talvez a comparação fique um pouco empobrecida ou o leitor possa achar piegas, mas sigo determinada neste assunto que, por hora, ronda meus pensamentos e apreende meus sentidos.


Durante uma conversa de bar com algumas amigas, claro, só no bar temos essas conversas, percebi uma ansiedade pairando no ar. Todas querendo encontrar o “grande amor” de suas vidas e todas bastante determinadas. Mas como saber se estamos entrando numa história de amor quando ela mesma nem começou? Assim como Hegel que constrói uma metáfora para dizer que “vivemos pra frente, mas compreendemos pra trás” em relação à história e a filosofia, posso dizer que, em se tratando de relacionamentos, não somos diferentes.


Para se viver um grande amor, sem plagiar Vinícius de Moraes, é preciso estar distraído. É preciso estar de bem com a vida e seguro dentro do que é seu. E um dia, quem sabe, de tanto olharmos para dentro de nós mesmos, tropecemos naquela pessoa que nos fará alçar vôos sem sair do chão, e quando olharmos pra trás, perceberemos que estamos vivendo a mais incrível história de amor de nossas vidas.


No amor não há regras, lugares comuns e muito menos certezas futuras. O que temos são os caminhos percorridos e que só podem ser mensurados com o tempo passado. Só olhando para trás é que podemos ter uma medida do “futuro” e do tamanho da história que vivemos. Por isso minhas amigas, vos digo, distraiam-se e vivam enfim “O Grande Amor”.







Teresa Castro Duque Estrada de Barros
é estudante de Comunicação Social
Facha - 25/09/2009

As necessidades dos tempos

Acordou atrasada, havia ignorado os reclames insistentes do despertador. Quando se deu conta de que horas eram, levantou –se apressada a fim de se aprontar e sair para o trabalho. Nesse meio tempo, entre tomar banho e pegar o ônibus, esqueceu-se de comer. Chegou, trabalhou, saiu do trabalho, pegou outro ônibus, e foi para um outro trabalho. Chegou, trabalhou novamente e apressou-se para pegar um coletivo até chegar à faculdade. Assistiu aulas, foi para casa, deparou-se com o livro do Freud que lia, pensou em ler um pouco. Desistiu. Tomou um banho e foi dormir sem comer, o cansaço e a preguiça não a deixaram preparar qualquer alimento.
O tempo para literatura, filosofia e até para palavras cruzadas se tornava cada vez mais escasso. Parou para pensar sobre o quanto pensar fazia falta. Todas as atribulações e funções corriqueiras que ocupavam o seu dia pareciam-lhe pouco. O tempo sempre foi uma questão. Desde os trovadores, passando pelos poetas e levado a sério pelos filósofos. A pressão que o tempo exerce sobre o humano, é irreversível. Para ela não era diferente. A compreensão histórica, aos olhos de Hegel, só pode vir quando o ciclo está chegando ao fim. A sabedoria subutilizada da coruja, que só vem ao anoitecer é uma metáfora interessante. E realmente, ela e todo o ser que habita este planeta sofrem desse mal-estar de “viver” no presente, idealizando o futuro e reforçando o passado. Talvez assim também se dê a História. Vivendo um presente, que contempla o passado e molda o futuro.
Marx já acreditava que o caminho percorrido nos mostra para onde ir e que é a filosofia que diz isso para a História. Seria muito ousado, ou talvez agressivo, que ela discordasse de Marx, pensador que se debruçou sobre os livros e que foi um grande estudioso da sociedade a fim de criar seu discurso, mas não poderia se furtar em expressar o que sentia. Sim, o que sentia. A contemplação humana que mais valia para ela era as dos sentidos. E suas sensações indicavam que a filosofia não mostra à História o caminho que esta deve percorrer. Isso, para ela, se daria de maneira inconsciente, a partir dos sofrimentos e necessidades dos humanos naquele contexto histórico. Seria de grande valia se pudéssemos, com certo distanciamento, pensar o que devemos fazer para sanar nossos males, nossas dores e as mudanças que são necessárias. Mas isso não se dá de forma racional, e sim pulsional. Dá-se, a partir de quando o calo começa a doer tanto no pé, de modo que precisamos arrancar os sapatos e arranjar novos deles, que sejam mais confortáveis. E estes provavelmente um dia também nos incomodarão.

Isabela Marinho Rangel
estudante de Comunicação Social
Facha - 25/09/2009