domingo, 24 de fevereiro de 2013

Exclusivo para assinantes

Por SUZANA SINGER, Ombudsman da Folha de S.Paulo


Para melhorar a qualidade dos comentários no site, Folha restringe o livre opinar aos pagantes

"Quer dar sua opinião à vontade? Então, pague." Curto e grosso, esse é o resumo da nova política de comentários no site da Folha.

Desde 29 de janeiro, só os assinantes estão livres para comentar qualquer texto. Os demais internautas podem opinar apenas nas notícias previamente selecionadas pela Redação -e obedecendo a um limite de 20 por dia.

Além disso, observações colocadas por visitantes passam por uma aprovação, o que implica demora na liberação do post.

Na sexta-feira passada, o professor universitário Marcos Brogna, 38, queria fazer uma crítica ao editorial sobre a corrida presidencial, mas foi barrado. "O jornal só quer que os assinantes, aqueles que tendem a ter uma postura menos crítica à própria Folha, debatam suas reportagens, editoriais e colunas", protestou Brogna.

A restrição aos comentários desagradou especialmente os assinantes do UOL, que podem ler todo o conteúdo da Folha, mas perderam o direito de comentar livremente. "É uma quebra unilateral de contrato, porque o acesso à Folha deveria incluir o comentário, que é um mecanismo fundamental de participação", escreveu o analista de mídia Renato Silveira, 49, que postava diariamente no site.

A Secretaria de Redação afirma que os comentários não podem ser considerados como parte do conteúdo da Folha, porque são produzidos pelos leitores. O objetivo da mudança seria melhorar a qualidade do que é publicado.

Antes da restrição, o site tinha cerca de 5.000 comentários por dia, o que tornava impossível controlar o que ia ao ar. Embora o jornal ainda não tenha um número fechado, dá para notar que a quantidade de posts caiu bastante.

O nível do debate melhorou, mas está longe do ideal. Basta navegar um pouco para encontrar:

"Mandem ela para a Venezuela para cuidar do Hugo Chávez." (sobre a médica acusada de provocar mortes na UTI)

"Falta deixar a barba crescer, perder um dedo e dizer 'nunca antes nesta cidade'. Haddad, cala a boca e trabalha!" (sobre críticas do prefeito à gestão Kassab)

"Só se for com a língua." (sobre Silvio Santos ter brincado que, aos 82 anos, faz sexo "quase todo dia")

Para aplacar as críticas e justificar essa medida antipática, mas necessária, de restringir os comentários, a Redação precisa se esforçar mais na seleção do que vai ao ar. Não é fácil porque o manto da invisibilidade da internet parece liberar o que há de pior em cada um.

UM CHUTE PELAS COSTAS

A pequena nota publicada na quinta-feira passada não dava conta de explicar a agressão sofrida pela repórter Daniela Lima, 27, destacada pelo jornal para cobrir a festa em que o PT comemorava os 10 anos de tomada do poder.

Percebendo um tumulto na porta do evento, Daniela foi ver o que estava acontecendo. Eram cerca de 100 militantes que queriam entrar, mas não tinham convite.

A repórter se aproximou e perguntou o porquê do protesto. Um militante olhou o crachá dela e respondeu "Fora daqui, PIG" (para os não familiarizados com a linguagem petista: PIG é "partido da imprensa golpista").

O clima esquentou. Uma senhora impediu Daniela de passar, um homem lhe deu um chute pelas costas. "Cadela do PIG", gritaram.

As agressões partiram de um grupo e, graças à ajuda de outros militantes, ela saiu dali.

O Diretório Estadual do PT em São Paulo lamentou o ocorrido e afirmou que "o partido reforça seu respeito aos profissionais de comunicação que, diariamente, acompanham a vida política e contribuem para a democratização das informações".

A inaceitável agressão serviu pelo menos para isso: ouvir o partido do governo dizer que valoriza o trabalho da imprensa.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ombudsman/95327-exclusivo-para-assinantes.shtml




Censura à estátua: George Orwell volta à BBC, agora em bronze


POR BERNARDO MELLO FRANCO - CORRESPONDENTE DA FOLHA, EM LONDRES

O escritor britânico George Orwell (1903-1950), autor do clássico "1984", posa ao lado de microfone da BBC

Não, não é o Bial. O pai do verdadeiro Big Brother, George Orwell (1903-1950), também trocou o jornalismo por outro ramo. Mas manteve distância segura de gente vocacionada para brilhar em reality shows.


Orwell preferiu a literatura às redações. No clássico "1984", descreveu um regime totalitário em que o Grande Irmão investia em câmeras para espionar a vida de cada cidadão. As cenas de tortura do livro se passam numa certa Sala 101, referência ao local das reuniões longas e improdutivas que aborreciam o autor quando ele ainda assinava seu nome real, Eric Blair, e batia ponto na BBC.

Há poucos dias, o conselho de Westminster, que administra parte do centro de Londres, autorizou a instalação de uma estátua do escritor em frente à Broadcasting House, a sede reformada da rede britânica. Nada anormal, se o anúncio não incluísse a informação de que a homenagem deveria ter saído antes, mas foi censurada pela emissora.

O responsável pelo veto foi Mark Thompson, diretor-geral da BBC até o ano passado. Segundo revelou uma das idealizadoras da estátua, ele achou que o ex-funcionário ilustre não merecia a deferência por ter sido ªmuito esquerdistaº. O executivo, que agora manda no ªNew York Timesº, confirmou a história.

Não deixa de ser irônico que o ªesquerdismoº tenha sido usado para punir um escritor que teve uma de suas obras transformada em peça de campanha contra o comunismo. Socialista democrático, Orwell despejou suas críticas à URSS em "A Revolução dos Bichos", fábula sobre os desmandos de Stálin. Morreu em 1950, quando ainda pegava mal na esquerda criticar o Guia Genial dos Povos.

A estátua custará 110 mil libras (cerca de R$ 330 mil) e será bancada por doações de gente como o dramaturgo Tom Stoppard e o humorista Rowan Atkinson, o Mr. Bean.

Enquanto o Orwell de bronze não é inaugurado, os fãs do escritor podem se deleitar com um site da BBC sobre a sua passagem pela rede. A página reúne material de primeira, como o fac-símile da sua carta de demissão, datilografada em setembro de 1943. Está tudo em bbc.co.uk/archive/orwell.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/1235189-censura-a-estatua-george-orwell-volta-a-bbc-agora-em-bronze.shtml






segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Governos espetaculares fazem espetáculos

*Elio Gaspari - "Folha de S.Paulo" - 17/02/2013

Desde o ano passado o semiárido nordestino atravessa uma grave seca. Na Bahia, Sergipe, Alagoas e Maranhão, 75% dos municípios estão em estado de emergência. No Ceará, são 177 em 184. Lá, as chuvas do ano passado ficaram em metade da média habitual e neste ano estão abaixo do terço (55,1 milímetros contra 161,8). Há 136 municípios dependendo de carros-pipa para atender perto de um milhão de pessoas. Em algumas cidades as escolas dependem do socorro de vizinhos.


Os investimentos feitos na região mostraram-se insuficientes para enfrentar uma calamidade natural que, segundo os meteorologistas, tende a se agravar. Estima-se que as chuvas deste ano serão poucas.

A mais vistosa ação do governo federal tem sido um filme de um minuto que a Secom botou nas televisões da região. Nele, "Chambinho do Acordeon", feliz e sorridente, anda pela caatinga informando que "a seca sempre vai existir, mas o sertanejo vai poder se defender cada vez mais dela". Cantando louvores aos investimentos feitos pelo governo, informa que "o sertanejo é um cabra forte, só precisa de apoio, e vai ter cada vez mais".

Os sertanejos que estão sem o abastecimento de carros-pipa não precisam de propaganda. O que lhes falta é água. Esse tipo de marquetagem no meio de uma seca chega a ser deboche. Para falar sério, o aparelho de autoglorificação da doutora Dilma deveria anunciar, ao fim de cada clipe, quanto gastou na marquetagem e quantos carros-pipa ela pagaria.

Durante a seca de 1998, Lula visitou o interior do Ceará acompanhado de José Genoino, cuja família morava em Jaguaruana. Culpou a desatenção dos tucanos e prometeu rios de mel. Nas palavras de Nosso Guia: "O sofrimento do povo nordestino só vai acabar no dia que a gente tiver políticas de investimento para tornar esta terra produtiva. E essas políticas o PT tem". Qual era? "O Fernando Henrique veio ao Ceará na campanha de 1994 e prometeu transpor as águas do rio São Francisco. Mas até agora não trouxe sequer um copo de água. Ele foi mentiroso e vai mentir de novo prometendo a obra para ganhar voto". Em 2003, eleito, Lula prometeu: "Nesses quatro anos, 24 horas por dia serão dedicadas para fazer aquilo em que acredito: a transposição das águas do rio São Francisco". Ficou oito anos, a doutora Dilma juntou mais dois e depois de dez anos o "copo de água" ainda não apareceu.

A opção preferencial dos governos pela propaganda e pelos espetáculos criou um novo estilo de administração e nele o governador do Ceará, Cid Gomes, tem se revelado um talento à altura de Steven Spielberg. No ano passado, a Viúva entrou com boa parte do custo da festa de inauguração de um centro de convenções abrilhantado pelo tenor espanhol Plácido Domingo. A tertúlia custou R$ 3,1 milhões e alegrou 3.000 convidados.

Até aí tudo bem, pois de fato havia um centro de convenções. Em janeiro passado ele pagou um cachê de R$ 650 mil à cantora Ivete Sangalo para lustrar a inauguração do Hospital Regional Euclides Ferreira Gomes, em Sobral, berço político de sua família desde a Proclamação da República. Cadê o hospital? Houvera o show, o prédio estava pronto, mas não havia funcionários. Até hoje ele funciona como posto de saúde, só com consultas e raios-x. Hospital mesmo, só em maio.

Assim como a Secom poderia investir em carros-pipa o que gasta em propaganda, Cid Gomes poderia ao menos fazer a caridade de só patrocinar shows quanto tiver serviço para entregar.

PRECAUÇÃO

O chanceler Antonio Patriota trabalha com a ideia de que seu prazo de validade expira ao final do mandato da doutora Dilma.

RECORDAR É VIVER

Um curioso achou uma breve declaração de Nosso Guia num depoimento a Ronaldo Costa Couto, publicado em seu livro "História Indiscreta da Ditadura e da Abertura".

Em 1989 Lula dizia o seguinte: "E depois tem outra coisa: o medo de largar o poder. As pessoas gostam do poder. O poder é uma coisa muito filho da puta. As pessoas dizem que estão cansadas, que estão velhas, que trabalham muito, mas ninguém larga o poder. E eu acho que os militares gostaram do poder".

Os militares chegavam ao poder sem voto. Lula e seus postes ocupam-no pela vontade popular, mas nenhum general meteu-se no governo de seu sucessor nem tentou voltar à Presidência.

BOA NOTÍCIA

Se Deus é brasileiro, a Comissão da Verdade trabalhará em silêncio.

Seu último surto exibicionista só ocorreu porque decidiu-se evitar a renúncia pública de um de seus membros.

PALPITE

Um conhecedor da política do Vaticano capaz de dizer, há seis meses, que Bento 16 poderia renunciar, terminou a semana esperançoso.

O cardeal Oscar Maradiaga, de Honduras, entrou na lista dos dez favoritos em duas bolsas de apostas. Isso não quer dizer nada, mas, para quem se entristeceu durante o pontificado de Joseph Ratzinger, permite ao menos algumas semanas de torcida.

JOESLEY DA JBS-FRIBOI E WARREN BUFFETT

Outro dia o empresário Joesley Batista, controlador do grupo JBS-Friboi, disse que pretende transformar sua empresa numa similar da Berkshire Hathaway, do americano Warren Buffett, um dos homens mais ricos do mundo, com US$ 46 bilhões no cofrinho.

Associado a executivos bilionários brasileiros, o "mago de Omaha" acaba de oferecer US$ 24 bilhões pela fabricante de molhos Heinz, a mais famosa marca do gênero no mundo. Se o doutor Joesley quer seguir o caminho de Buffett, alguém precisa aconselhá-lo a conhecer a vida de seu modelo.

Em outubro passado, ao casar-se, ele jogou uma bolsa Chanel para as convidadas. Já o bilionário Buffett comprou o anel de casamento de sua segunda mulher numa loja que lhe dava direito a desconto, fez uma cerimônia de 15 minutos e foi jantar num restaurante.

Joesley colocou na presidência do conselho consultivo da FBS o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. Com Buffett ocorre o contrário, são os presidentes dos Estados Unidos e do Fed que se aconselham com ele. Tomando dinheiro emprestado no BNDES, a JBS deu-lhe um prejuízo escritural de R$ 2,2 bilhões. Buffett não tem BNDES a quem pedir dinheiro e na crise de 2008 socorreu o banco Goldman Sachs, investindo nele US$ 5 bilhões. Parece ter ganho um bom dinheiro.

Em 2012 o grupo JBS doou R$ 16 milhões a partidos políticos numa eleição municipal. Aos 82 anos, Buffett nunca desembolsou semelhante quantia no patrocínio de políticos, mas assumiu o compromisso de doar metade de sua fortuna para atividades sociais.

*Elio Gaspari, nascido na Itália, veio ainda criança para o Brasil, onde fez sua carreira jornalística. Recebeu o prêmio de melhor ensaio da ABL em 2003 por "As Ilusões Armadas". Escreve às quartas-feiras e domingos na versão impressa de "Poder".

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/eliogaspari/1231960-governos-espetaculares-fazem-espetaculos.shtml

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Após perder doutorado por plágio, ministra alemã se demite


O Globo - Com agências internacionais - 9/02/13


Annette Schavan é acusada de ter copiado textos para parte de sua tese

Perda de aliada e amiga pessoal será um golpe para Merkel, dizem especialistas

BERLIM - A ministra da Educação da Alemanha, Annette Schavan, confidente da chanceler Angela Merkel, pediu demissão nesta sexta-feira, após perder seu diploma de doutorado por acusações de plágio. Em pronunciamento, ao lado da amiga, ela voltou a negar as denúncias, mas disse que chegou a hora de deixar a liderança da pasta.

- Eu acho que hoje é o dia de deixar o meu posto ministerial e concentrar meus serviços como membro do Parlamento Eu não irei aceitar a decisão da universidade. Eu não copiei nada ou plagiei - disse. - Primeiro a nação, depois o partido e então eu mesma - acrescentou, usando uma citação do ex-premier Erwin Teufel.

Na terça-feira, a universidade Duesseldorf's Heinrich Heine anunciou que estava removendo o diploma de doutorado de Schavan, após uma revisão. A política, , de 57 anos, finalizou seus estudos há 33 anos, mas instituição de ensino entendeu que ela “sistematicamente e intencionalmente” copiou partes de textos para sua tese.

Alegações contra a ministra foram levantadas por caçadores de plágio na internet no ano passado e deflagraram uma apuração interna na universidade, a pedido da própria. Mas, num documento de 75 páginas, a comissão de investigadores, comandada pelo professor Stefan Rohrbacher, detectou no texto de 351 páginas as ausências das devidas referências bibliográfica em pelo menos 60 delas.

O escândalo promete ganhar contornos políticos e atrapalhar os esforços para a campanha eleitoral de Merkel e do partido União Democrática Cristã (CDU) em setembro. Afinal, trata-se da segunda baixa no governo dela pela prática de plágio. Em 2011, o então ministro alemão da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg, de 39 anos, viu-se obrigado a renunciar depois de ter sido acusado de fraudar 130 páginas de sua tese de doutorado em Direito.

Fonte: http://oglobo.globo.com/mundo/apos-perder-doutorado-por-plagio-ministra-alema-se-demite-7537238#ixzz2KSfEByvx