quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Fascínio do jornalismo

*Carlos Alberto Di Franco - O Globo - 12/10/2015


As virtudes e as fraquezas dos jornais não são recatadas. Registram-nas fielmente os sensíveis radares dos leitores. Precisamos, por isso, derrubar inúmeros desvios que conspiram contra a credibilidade dos jornais.
Um deles, talvez o mais resistente, é o dogma da objetividade absoluta. Transmite, num solene tom de verdade, a falsa certeza da neutralidade jornalística. Só que essa separação radical entre fatos e interpretações simplesmente não existe. É uma bobagem.
Jornalismo não é ciência exata e jornalistas não são robôs. Além disso, não se faz bom jornalismo sem emoção. A frieza é anti-humana e, portanto, antijornalística. A neutralidade é uma mentira, mas a isenção é uma meta a ser perseguida. Todos os dias. A imprensa honesta e desengajada tem um compromisso com a verdade. E é isso que conta.
Mas a busca da isenção enfrenta a sabotagem da manipulação deliberada, a falta de rigor e o excesso de declarações entre aspas.


O jornalista engajado é sempre um mau repórter. Militância e jornalismo não combinam. Trata-se de uma mescla, talvez compreensível e legítima nos anos sombrios da ditadura, mas que, agora, tem a marca do atraso e o vestígio do sectarismo. O militante não sabe que o importante é saber escutar. Esquece, ofuscado pela arrogância ideológica ou pela névoa do partidarismo, que as respostas são sempre mais importantes que as perguntas.
A grande surpresa no jornalismo é descobrir que quase nunca uma história corresponde àquilo que imaginávamos. O bom repórter é um curioso essencial, um profissional que é pago para se surpreender. Pode haver algo mais fascinante? O jornalista ético esquadrinha a realidade, o profissional preconceituoso constrói a história.
É necessário cobrir os fatos com uma perspectiva mais profunda. Convém fugir das armadilhas do politicamente correto e do contrabando opinativo semeado pelos arautos das ideologias.
A precipitação e a falta de rigor são outros vírus que ameaçam a qualidade da informação. A manchete de impacto, oposta ao fato ou fora do contexto da matéria, transmite ao leitor a sensação de uma fraude.
Mesmo assim, os jornais têm prestado um magnífico serviço no combate à corrupção. Alguém imagina que a cascata de denúncias e prisões teria ocorrido sem uma imprensa independente? Jornais de credibilidade oxigenam a democracia.
O leitor que precisamos conquistar não quer o que pode conseguir na TV ou na internet. Ele quer algo mais. Quer o texto elegante, a matéria aprofundada, a análise que o ajude, efetivamente, a tomar decisões. Conquistar leitores é um desafio formidável. Reclama realismo, ética e qualidade.


Uma imprensa ética sabe reconhecer seus erros. As palavras podem informar corretamente, denunciar situações injustas, cobrar soluções. Mas podem também esquartejar reputações, desinformar. Reconhecer o erro, limpa e abertamente, é o pré-requisito da qualidade.
O jornalismo tropeça em armadilhas. Nossa profissão enfrenta desafios, dificuldades e riscos sem fim. E é aí que mora o fascínio.

*Carlos Alberto Di Franco é jornalista


Fonte: http://oglobo.globo.com/opiniao/fascinio-do-jornalismo-17744010#ixzz3oZWrhf4I 

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Um doutor cheio de amor




RIO — Uma consulta com quatro horas de duração, na qual o paciente é indagado sobre seus hobbies, os detalhes de sua relação amorosa e até a maneira como beija seu companheiro. O médico quer saber como anda sua vida e, se para além dos problemas físicos, você está bem consigo mesmo. Durante o atendimento, as únicas regras são o amor e o cuidado com o outro. Essa “consulta dos sonhos” diz muito sobre a maneira como Patch Adams entende a medicina. Interpretado no cinema pelo ator Robin Williams no filme “Patch Adams: o amor é contagioso,” o médico americano é famoso por adotar uma metodologia de trabalho voltada para a humanização da medicina. Em visita ao Rio para uma palestra intitulada “A alegria do Cuidar”, o oncologista pediatra contou casos, criticou o sistema de saúde americano e a formação nas universidades mundo afora. Ele também pediu que os médicos usem a criatividade para universalizar o acesso à saúde.
— Você não pode se tornar um médico em poucos minutos. Decidi que passaria quatro horas com os novos pacientes. Você escolhe quem vai ser, e eu decidi ser criativo, carinhoso. Na História, nunca houve nenhum estudo mostrando que ser sério, violento e rude é bom. Milhares de artigos falam do valor de ser amoroso. É bom para o sistema imunológico — contou Patch Adams a uma plateia composta por diversas faixas etárias, lembrando que a imensa maioria de seus professores universitários eram arrogantes e tratavam mal os pacientes.

Com o cabelo metade branco e metade azul caindo pelas costas e trajando roupas extravagantes como as usadas pelos palhaços de circo, o médico pediu que os profissionais sejam criativos para promover o acesso à saúde de maneira igualitária.
— Quando vejo um médico que, em vez de querer ganhar muito dinheiro, quer trabalhar em uma favela, vejo que ele tem uma inspiração heroica. Se você se sente herói é muito difícil se esgotar. Se tivermos cuidado suficiente, não teremos guerra na Humanidade. Como podemos dar um cuidado para alguém de uma favela da mesma maneira que é dado para alguém que mora na orla da praia? É necessário muita criatividade — defendeu.
Nas horas em que se dedicou a falar ao público, ele fez rir e chorar, mas também sorriu e se emocionou. Patch Adams criticou o fato de os hospitais serem lugares tristes.
— Não há um único hospital feliz no mundo inteiro. E por quê? — perguntou, aproveitando para convidar os presentes para para uma “revolução” enquanto comentava a situação da saúde em seu próprio país. — O sistema de saúde dos Estados Unidos é uma vergonha. Os planos dão ordem aos médicos. Como podemos, assim, ter um hospital onde o amor faça parte do contexto?
O espaço reservado para o amor no ambiente hospitalar também é uma preocupação no Instituto Nacional do Câncer (Inca), referência no tratamento da doença no Brasil. Com uma área dedicada aos programas de voluntariado, o instituto aposta na atenção e no carinho como agentes potencializadores da recuperação dos pacientes, como explica Angélica Nasser, supervisora do Inca-voluntário, presente na palestra de Patch Adams.

A explicação para que os pacientes se sintam mais felizes, mesmo em situações de sofrimento, segundo Patch Adams, é simples.
— O mundo inteiro é seu quando se tem amor.



sexta-feira, 26 de junho de 2015

"O diploma de MBA hoje em dia é até perigoso" - Entrevista: Robert Cowen

Por Antonio Gois - O Globo - 21/06/2015

Professor emérito do Instituto de Educação da Universidade de Londres, Robert Cowen esteve no Rio na semana passada participando de um workshop sobre Inovação e Educação, na Universidade Estácio de Sá. Em entrevista ao GLOBO, ele criticou o formato dos cursos de MBA no mundo e disse que, no Brasil, “a última coisa que vocês precisam é de um bando de tecnocratas pensando em como organizar o país”.
O mercado de trabalho muda em velocidade cada vez maior, mas, no Brasil, por exemplo, os cursos universitários mais procurados seguem sendo os mesmos há décadas. Como as universidades podem se adaptar a essa realidade?
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico diz há tempos que as pessoas terão não apenas que mudar de emprego, mas trocarão de carreira ao menos três ou quatro vezes na vida. Colocar um rótulo no diploma é certamente uma forma muito pobre de enfrentar esse desafio. Hoje, não importa o que os governos façam, o futuro será moldado pelos fenômenos da internacionalização e da inovação. As universidades, as fundações, as empresas, os institutos, todos terão que achar um jeito de se adaptar a essa realidade. As pessoas mais preparadas no mercado de trabalho sabem exatamente o perfil dos trabalhadores que querem contratar, e vão achar um jeito de treiná-los, mesmo que dentro das empresas. No Japão, por exemplo, os empregadores não se importam tanto com qual diploma os jovens têm, desde que seja de uma boa universidade, pois eles serão treinados internamente.
Mas o que deve mudar na formação universitária para adaptar o jovem a essa nova realidade?
O modelo comum no Reino Unido é o de simplesmente deixar os estudantes livres para escolherem suas carreiras, e esperar que eles se ajustem às demandas do mercado. O paradoxo desse modelo é que, se você pesquisar o perfil das pessoas que estão à frente das 15 maiores empresas britânicas, verá que um número surpreendente é formado em história, apesar de as carreiras mais procuradas serem administração ou direito. Outro modelo é o americano, em que é comum você ter três diplomas — de graduação, mestrado e doutorado — em áreas diferentes, o que permite uma formação mais ampla. Outro exemplo é o do Japão, onde o curso é menos importante do que a universidade para a qual você passou. A lógica é que, se você foi inteligente o suficiente para entrar numa instituição concorrida, conseguirá emprego, mesmo que em outra área.
No Brasil, há quem critique o fato de darmos muita ênfase ao ensino de humanidades, e investirmos pouco em carreiras tecnológicas. Como o senhor se posicionaria neste debate?
É uma discussão internacional. No ano passado, tivemos um caso no Reino Unido de uma brilhante escritora e professora de Literatura da Universidade de Essex, Marina Warner, que se demitiu criticando os dirigentes daquela instituição. Ela disse que eles estavam preocupados apenas em formar professores nessas áreas, e não pensadores. Por que há tantos historiadores entre os executivos das empresas mais importantes na Inglaterra? Porque as pessoas no mercado têm que absorver um volume enorme de dados e ser hábeis em fazer julgamentos importantes diante de informações incompletas. É exatamente o desafio que um historiador enfrenta. Você não precisa de um MBA para isso, apesar de os MBAs terem virado um modismo.
Qual o problema com os MBAs?
Eles produzem um grande número de gerentes sem visão histórica ou sociológica. O diploma de MBA hoje em dia é até perigoso, pois dá as pessoas um excesso de confiança em suas habilidades para tomar decisões. É claro que há instituições de altíssimo nível que oferecem bons cursos, mas o MBA virou um negócio lucrativo que ensina muito sobre técnicas, mas nada sobre sabedoria. Não acho uma boa ideia deixar as decisões mais importantes nas mãos de técnicos. Eu me lembro do desastre americano no Vietnã, quando eles achavam que estavam ganhando a guerra porque faziam uma contagem de mortos de cada lado. Foi um erro gigantesco, baseado num modo extremamente tecnocrático e não intelectual de tomar decisões em cima dos dados. No Brasil, um país com tantas questões sociais importantes, certamente a última coisa que vocês precisam é de um bando de tecnocratas pensando em como organizar o país.

Fonte: http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/o-diploma-de-mba-hoje-em-dia-ate-perigoso-16508661#ixzz3eBRLe8xo 
 

terça-feira, 2 de junho de 2015

Minhas Livrarias

Por Joaquim Ferreira dos Santos - O Globo - Segundo Caderno - 01/06/2015

O Rio de Janeiro é uma cidade cercada de livrarias mortas por todos os lados, um cemitério de livros que jamais serão lidos, de palavras que para sempre assim jazerão, algumas estranhas, outras peremptoriamente compridas, mas lindas, todas agora esquecidas sem qualquer olho que lhes bata em cima, sem qualquer língua que as jogue de novo no meio da rua.
Em mais uma pá de cal atirada pela falta de sensibilidade geral que à raça carioca grassa, a cidade sem letras sepulta a Leonardo da Vinci na caverna onde já estava moribunda, nas catacumbas insalubres do Marquês do Herval. O prédio virou cenário preto e branco da penúria municipal. Ali não se consegue vender nem livro para colorir. Os ratos de livraria sumiram.
As obras do VLT cercaram a área, os camelôs tomaram a calçada, os assaltantes bateram a carteira de quem ainda a tinha e o resto ficou por conta do anúncio de que a próxima atração cultural é o livro de unir os pontinhos. Parece que no mundo todo tem sido assim. Ano passado foi a Rizzoli, em Nova York. Agora chegou a vez da Da Vinci, nas fraldas do Morro do Castelo. É a ordem da nova civilização digital: fechem as portas desse perfume antiquado e abafem o mau cheiro dos cupins.
Uma vez, ali no subsolo, nos tempos idos de 1970, eu folheava as páginas do “Women are beautiful”, um livro com a espetacular coleção de fotos de Garry Winogrand, e na necessidade urgente de compartilhar aquelas imagens, uma saraivada de mulheres flagradas de um jeito requintadamente desorganizado pelas ruas de Nova York, eu olhei para o lado. Lá estava Drummond, a quem eu conhecia de vista. Mostrei-lhe uma das fotos, sem dizer palavra, e ele reagiu da mesma maneira, apenas com um sorrisinho discreto, uma maneira de dizer que havia gostado, sim, tudo bem, meu jovem, mas que gostava mesmo era de entrar numa livraria e ali permanecer em paz.
Isso foi no tempo do silêncio, das carruagens dos vice-reis estacionadas no Cais Pharoux, no século das livrarias sem café e sem seção de papelaria vendendo Moleskine, esses truques cada vez mais necessários à sobrevivência da espécie. A Da Vinci, na crença antiga de que um país se faz apenas com homens e livros, desconsiderou as artimanhas. Morreu na contramão das tendências, atrapalhando ainda mais o tráfego na Rio Branco, esfaqueada pela casmurrice de não vender autoajuda, de não vender lápis de cor para recolorir Monet — e todas as demais maldições comerciais que agora lhe servem de lápide no grande cemitério carioca de brochuras, capas duras, pockets, primeiras edições autografadas, encadernações em couro e lombadas bordadas a ouro.
Descanse em paz no limbo da falta de memória e do afeto gentil, onde já estão a José Olympio, a Kosmos, a Muro, a Brasileira, a Francisco Alves, a 7 Letras, os sebos da Tiradentes e todo um tipo de vida que não existe mais. Se é bom, se é ruim, se não é melhor uma biblioteca inteira dentro do Kindle, por favor, pergunte ao João — mas o programa da Rádio Jornal do Brasil, na voz-trovão do Majestade, também acabou. Dê um Google. Durma-se com o aparente inevitável dessas coisas.
Foram-se o pé de jambo, o Caporal Amarelinho, o guarda-noturno, a anágua engomada, o verbo escorreito, o hímen complacente e agora, uma depois da outra, lá se estão indo as lojas de tijolos que vendiam livros de papel. As lágrimas pelo seu desaparecimento são cada vez mais discretas. No início do ano, sem qualquer linha nos jornais, fechou na Rua Miguel Couto a livraria Padrão. Se não fosse um velhinho que saía do sassarico na porta daCOLOMBO e, colegamente, veio me informar, ninguém mais teria notado o desaparecimento deste outro canapé com groselha da civilização local.
Eram livrarias sem marketing, sem programação visual. O livreiro Rui Campos, da vitoriosa Travessa, lembra de ter passado dez anos seguidos pela vitrine da “Glem”, na Senador Dantas, e nesse tempo todo estar sempre lá o exemplar taciturno, jamais comprado, a cada dia mais empoeirado, de “O testículo humano”. Na Rua México, na Galáxia, o amor de Lucien Zahar por seus livros era enorme. Ele não só cobria as bancadas com uma capa de plástico como, ao avesso das livrarias de hoje, cheias de poltronas acolhedoras, espanava quem ficasse muito tempo mexendo nos livros.
O livreiro era um personagem da cidade. Papa-léguas vendia livros no chão dos pilotis da PUC. Na Rua São José, Carlos Ribeiro conversava na porta do seu sebo com Guimarães Rosa. Em Ipanema, Graça e Chico Neiva comandavam a Dazibao comBOM HUMOR. Nas redações dos jornais, Ademar França vendia pilhas de edições em papel bíblia com a obra completa em três volumes de Machado de Assis.
O livro era o iPhone que se usava para conversar com outras pessoas.
No mesmo período em que o colunista José Castello, do caderno Prosa, estava sendo surpreendido roubando um Julio Cortazar na Da Vinci, eu, literariamente mais conservador, afanava o que pudesse de Scott Fitzgerald das estantes da Civilização Brasileira, na Sete de Setembro. Escondia um exemplar embaixo da fralda da camisa e, como não haviaCÂMERA DE SEGURANÇA nem portas vigilantes, eu ia saindo da livraria discretamente, assim como quem não quer nada, o chapéu de lado, tamanco arrastando — mas o coração aos pulos. O risco valia a pena. Hoje, os ratos são os da Fifa. Ninguém mais quer roubar livros.


Fonte: http://oglobo.globo.com/cultura/minhas-livrarias-16315437#ixzz3bwIrMrvb 
 

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Jornais têm um gosto único, diz presidente do Publicis Groupe


O GLOBO - ECONOMIA - 21/05/2015

Para Maurice Lévy, mídia impressa enfrenta desafios, mas é complementar ao mundo digital

SÃO PAULO - Mesmo em um mundo cada vez mais digital, os jornais continuam tendo um gosto único. É o que sustenta o presidente do Publicis Groupe, Maurice Lévy, que veio ao Brasil especialmente para anunciar a fusão entre duas das agências do grupo no país: a tradicional DPZ, fundada em 1968, com a Taterka, criando, assim, a DPZ&T. À frente do terceiro maior grupo de comunicação do mundo — que tem metade de suasRECEITAS oriundas de campanhas publicitárias para mídias digitais —, Lévy afirma ainda que os veículos impressos não podem ser deixados de lado, porque são complementares.
— Eu tenho repetido que não podemos opor o digital ao analógico. Eles são complementares — disse o executivo aoGLOBO.
Com relação aos jornais, Lévy garantiu que, apesar dos desafios à frente, eles mantêm um “gosto” único:
— Existem os desafios, mas ao mesmo tempo há o gosto do café, o gosto do café da manhã. Esse gosto é algo único, cada jornal tem o seu e esse gosto é insubstituível.
Mas ele ressaltou a necessidade de os jornais se adaptarem aos novos tempos.
— Os jornais, penso, têm um grande futuro e estão munidos da capacidade de se adaptar ao futuro, de desenvolver aplicativos para os dispositivos móveis, porque isso é indispensável e cria um vínculo com o consumidor, que hoje é muito diferente — disse Lévy, que brincou dizendo que ainda estava “com os dedos sujos de folhear as páginas”. — Meus dedos precisam desse contato físico e sensorial.

O Publicis tem uma forte presença no Brasil, um mercado que, na visão de Lévy, mais do que uma crise econômica, passa hoje por uma crise social.
— É uma crise na sociedade, não unicamente econômica. As consequências são econômicas, mas as dívidas são sociais. Há pessoas que estão insatisfeitas com as direções politicas. Há corrupção, greves, protestos e tudo isso, criando uma inquietação social. É algo além da economia — afirmou.
Essa visão sobre a importância dos jornais para a publicidade é compartilhada por Martin Sorrell, fundador e presidente do grupo inglês WPP, líder global do setor. Em março, Sorrell afirmou que jornais e revistas são meios “mais eficazes do que as pessoas estão supondo”.
NOVA AGÊNCIA JÁ É A 12ª MAIOR DO BRASIL
A DPZ&T, razão da vinda de Lévy ao Brasil, já nasce como a 12ª maior do país. Juntas, DPZ e Taterka investiram cerca de R$ 600 milhões em compra de mídia em 2013, de acordo com ranking do site Meio &Mensagem.
DPZ e Taterka integram a rede Publicis World Wide Brasil (PWW), que reúne ainda a Salles Chemistri, a Talent, Publicis Brasil e a AG2 Nurun. O Publicis ainda controla, no Brasil, a F/Nazca Saatchi & Saatchi, a Leo Burnett Tailor Made e a Neogama/BBH.
Apesar dos cenários econômico e social adversos, Lévy disse acreditar que a operação brasileira da Publicis voltará a crescer a taxas de dois dígitos a partir do segundo semestre de 2016.
— Esperamos avançar mais rápido do que a indústria, e o crescimento real (acima da inflação) virá em 2016. Temos que ganhar mercado, e essa fusão é extremamente importante — explicou o executivo.
A meta, segundo Lévy, é que o Brasil passe da atual 8ª posição para tornar-se uma das cinco maiores operações (top five) do grupo no mundo, dentro de até quatro anos:
— Queremos que o Brasil seja um dos nossos cinco maiores mercados. Essa é a nossa meta.
O executivo afirmou ainda que o Publicis tem condições de se tornar o número um do mercado publicitário brasileiro, posto hoje ocupado pelo WPP.
— O sonho que temos para este mercado é estamos à frente das transformações econômicas. Estamos mais bem preparados, e nosso objetivo é ter a melhor operação deste mercado.



terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Entrevista - Doug Lemov

Por Antônio Gois - O Globo - 09/01/2015

RIO - Quando foi lançado há cinco anos nos Estados Unidos, o livro do educador Doug Lemov foi recebido com um misto de entusiasmo e crítica. Diretor de uma rede de escolas privadas que atendem alunos pobres com recursos públicos, Lemov observou e filmou por cinco anos a atuação de bons professores em sala de aula. Desse trabalho surgiu “Teach Like a Champion”, traduzido no Brasil pela Fundação Lemann como “Aula Nota Dez”. Num mercado repleto de publicações sobre teorias pedagógicas, mas com quase nada sobre práticas de sala de aula, o livro virou rapidamente um best-seller.


Até hoje, no entanto, há quem o critique por dar ênfase demasiada à prática e desprezar teorias. Lemov responde afirmando que seu livro não tem a pretensão de ser o único a ser usado em escolas. O problema, afirma, é que boa parte das teorias pedagógicas é feita por profissionais que estão fora de sala de aula. Para ele, o professor não pode ser tratado só como alguém que executará a teoria de outros. Precisa ser respeitado também como alguém que tem soluções a dar para os problemas que ele mesmo vivencia na prática.

Lemov está lançando nos Estados Unidos uma segunda versão de seu livro. E terá seu trabalho avaliado no Brasil. Além da tradução de “Aula Nota Dez”, a Fundação Lemann elaborou um programa de gestão de sala de aula para formação de professores e coordenadores pedagógicos, baseado nas 49 técnicas descritas pelo educador americano. O programa será implementado em escolas estaduais cearenses, que serão avaliadas pelo Banco Mundial.

O senhor continuou estudando técnicas de bons professores após seu primeiro livro?

Sim. O livro lista 49 técnicas de grandes professores. Percebi que várias vezes me perguntavam sobre quais delas seriam as mais importantes. Isso me levou a reorganizar o livro em torno de quatro ideias principais e incluir técnicas que não constavam do primeiro.

Quais seriam essas ideias principais?

Uma das mais importantes é a que eu chamo de “checar pelo aprendizado.” A marca de um grande professor é entender a diferença entre “eu ensinei” e “eles aprenderam”. Esses profissionais estão constantemente querendo entender não apenas o que os estudantes sabem, mas principalmente aquilo que não sabem. Numa das técnicas, que descrevo como a “cultura do erro”, fizemos um vídeo de um professor que circula pela sala de aula e percebe que muitos alunos estão cometendo erros comuns. Um deles mostra ao professor seu erro, e o professor diz “que bom que você cometeu esse erro, pois isso me permitirá ajudá-lo melhor. Vamos aprender a partir disso”. Parece algo óbvio, mas o importante aqui é o professor passar a mensagem aos alunos de que é normal estar errado, e que errar é parte importante do caminho para o aprendizado.

Também reforço a ideia, já presente no primeiro livro, de que é preciso ter altas expectativas acadêmicas a respeito de todos os alunos. A terceira ideia é a de que é preciso estruturar a aula de modo que todos os alunos tenham tempo para desenvolver atividades cognitivas, em vez de ficar apenas assistindo ao professor. Um dos capítulos do meu novo livro que julgo mais importantes é o que fala da importância da escrita.

O senhor pode dar um exemplo?

Escrever é um dos atos mais rigorosos que um estudante pode fazer. Requer que você entenda uma ideia e saiba descrevê-la de forma exata em suas próprias palavras. Se você fizer isso bem, é porque entendeu. Quando você fala, pode usar gestos ou ser menos preciso. Quando escreve, são só suas palavras. Além disso, ao exigir que todos escrevam, o professor estimula todos a trabalhar, e não apenas alguns.

E qual seria a quarta ideia?

Ajudar o professor a criar uma cultura positiva de comportamento nos estudantes. Quando lancei meu primeiro livro, uma parcela significativa, tanto dos que gostaram quanto dos que não gostaram, entendeu, equivocadamente, que ele se resumia a dar dicas de como controlar e disciplinar os estudantes. O importante aqui, que eu procurei deixar claro agora nessa segunda versão, é que as técnicas para melhorar o ambiente de sala de aula existem para permitir que os alunos aprendam mais. Esse é o foco.

O Banco Mundial avaliará o uso de algumas de suas técnicas em sala de aula. Qual sua expectativa?

Espero que as pessoas usem as técnicas para assegurar que as crianças estejam aprendendo. Parece óbvio, mas vi nos Estados Unidos algumas redes que diziam ter adotado meu livro mas que, na verdade, estavam se preocupando apenas com as técnicas mais básicas, de comportamento.

Uma parte dos educadores criticou seu livro por dar uma ênfase exagerada à prática, como se ela fosse mais importante do que a teoria.

Não existe apenas um livro no mundo. É muito importante ter publicações que falem sobre a prática docente. Não significa que não se deva estudar teoria, mas o que acontecia, ao menos nos Estados Unidos, era que praticamente só havia livros teóricos, e muitos profissionais chegavam à sala de aula sem saber como resolver problemas cotidianos. Também acho que é importante aprender a partir da experiência de professores. Muitas teorias são escritas por gente que não está em sala de aula, que não trabalha nela todo dia. Não sei como é no Brasil, mas nos Estados Unidos temos um problema grave de baixo status da carreira docente. É importante respeitar os professores. Eles não podem ser tratados apenas como pessoas que vão executar teorias de outros. As soluções de problemas de sala de aula precisam ser pensadas principalmente pelos professores.

Fonte: http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/boa-parte-da-teoria-feita-por-quem-esta-fora-da-sala-de-aula-diz-educador-americano-15002761#ixzz3Ok2RHyVR